EL NIÑO E LA NIÑA

10/10/2021 16:52

Alguns acontecimentos climáticos são classificados como anomalias, representando alterações no sistema atmosférico e provocando mudanças em várias partes do planeta.

E as duas principais anomalias climáticas do mundo  são o El Niño e a La Niña.

Embora as consequências desses dois fenômenos sejam sentidas em vários cantos do mundo, eles ocorrem em um lugar específico do planeta.

E é por esse motivo que vocês estarão visualizando logo abaixo um mapa que nos apresenta a costa oeste da América do Sul, e a costa leste da Austrália, tendo entre eles o Oceano Pacífico, pois esse é o palco da ocorrência dessas duas anomalias.

Mas por que esses fenômenos ocorrem no oceano Pacífico e próximo a linha do Equador?

Porque   é  nessa região que nós iremos encontrar uma circulação do ar atmosférico associado aos ventos Alísios conhecidos como células de Walker,

 e é ali que também   ocorre a atuação de uma corrente marítima fria, conhecida como corrente de Humboldt. 

E são esses dois fatores climáticos, os protagonistas por fazerem a "mágica" toda acontecer. 

Os ventos Alísios são massas de ar quente e úmido que saem de regiões próximas ao trópico de Câncer no hemisfério Norte e do Trópico de Capricórnio no hemisfério sul, e seguem em direção de regiões próximas a linha do Equador.

Já as correntes marítimas são como extensos rios dentro dos oceanos que possuem salinidade, temperatura e direção próprias, e a corrente de Humboldt é uma dessas correntes marítimas frias que atua no oceano Pacífico gerando grande influência no clima de alguns países da costa oeste sul americana. Como por exemplo no Chile e no   Peru.

Em uma situação normal, ou seja, sem a influência de qualquer anomalia, a água superficial do oceano Pacífico, ou seja, aquela água mais próxima da superfície, é aquecida pela intensa radiação dos raios solares.

E por ser menos densa, essa porção de água quente aprisiona a corrente marítima de Humboldt em regiões mais profundas do oceano Pacífico. Que por ser mais fria e mais densa, não deveria conseguir atuar junto a superfície daquela região.

No entanto, soprando a uma velocidade média de 15m/s os ventos Alísios, incumbem-se de empurrar essa porção superficial de água quente em direção ao continente asiático e para a Austrália.

Liberando espaço junto a superfície da costa oeste sul americana para que a corrente fria de Humboldt aprisionada mais abaixo, consiga subir e atuar na naquela região, criando um fenômeno conhecido como Ressurgência ou afloramento, em outras palavras a ascensão da água fria das profundezas do oceano Pacífico.

 

Ao receber a água quente trazida pelos ventos Alísios, a Oceania pode ter o nível do mar elevado entre 20 cm a 50 cm em relação a América do Sul.

Na costa leste da Austrália, o calor da água é transferido para o ar, e por ser mais leve e úmido, esse ar aquecido sobe e condensa, ocasionando chuvas na região.

Enquanto isso,  ao longo da costa  americana, as águas mais frias do fundo do oceano Pacífico que subiram para a superfície, são compostas de uma quantidade elevada de Oxigênio, e por esse motivo elas carregam consigo uma quantidade maior de matéria orgânica, que são utilizadas como alimentos pelos peixes, favorecendo  a atividade pesqueira naquela região.

Uma vez compreendido de que forma os ventos Alísios e a corrente marítima de Humboldt atuam no oceano Pacífico numa situação normal, vocês verão  o quanto ficará mais fácil compreender o fenômeno do El Niño.

Por motivos ainda desconhecidos, descobriu-se que em um período irregular que pode variar entre dois a sete anos,  os ventos alísios se enfraquecem, diminuindo a sua velocidade média de 15 para 2m/s.

E sem a sustentação  dos ventos Alísios, a água quente superficial  do oceano Pacífico deixa de ser empurrada em direção a Austrália, gerando um acúmulo de água quente  junto a costa oeste sul americana, e como consequência disso, ocorre a diminuição da  Ressurgência, ou seja ocorre uma diminuição do afloramento das águas frias.

 

E é justamente esse acúmulo ANORMAL de água quente sobre o oceano Pacífico que nós iremos chamar de El Niño.

O nome está relacionado ao menino Jesus, pois a sua descoberta está associada às observações de pescadores peruanos, que notaram a redução da quantidade de peixes na época do Natal. E por esse motivo eles acreditavam que isso poderia ser um castigo do menino Jesus, ou seja, do El Niño.

 

Entre as consequências do El Niño estão:

  • Redução na quantidade de chuvas na Oceania, em especial na Austrália e em algumas ilhas do Pacífico, além de países do Sudeste asiático, como Indonésia e Índia.
  • No litoral oeste da América do Sul e da América do Norte ocorre um aumento das temperaturas e, especialmente nos meses de verão, há também um aumento das chuvas e enchentes.
  • Nas áreas pesqueiras do Pacífico Leste como Peru, Chile e Canadá, o El Niño pode ser dramático, diminuindo consideravelmente a quantidade de peixes de acordo com o nível de aquecimento das águas, que pode variar entre 0,5 até 6° C acima da média térmica do oceano Pacífico que é de 23° C.

Foi o que aconteceu entre os anos de 1982 e 1983 quando equipamentos meteorológicos modernos registraram um aumento de 6°C, e a pesca no Peru resultou em metade dos valores pescados no ano anterior.

Já no Brasil as consequências do El Niño são bem diversificadas, provocando secas em algumas áreas e o aumento das chuvas em outras, ocasionando profundas alterações meteorológicas. E vamos ver como cada região brasileira reage sob a influência do El Niño.

Mas e a La Niña? Ao contrário do que se pensa, o nome La Niña (A Menina) não é uma referência a Menina Maria ou Maria mãe de Jesus. O nome surgiu em oposição ao El Niño.

Pois ao contrário do El Niño que ocorre por conta do enfraquecimento  dos ventos Alísios e consequentemente  das células de Walker, a La Niña ocorre devido ao fortalecimento desses ventos.

Portanto, se em uma situação normal a água quente superficial do oceano Pacífico já é empurrada em direção da Ásia e Oceania, esse fenômeno se intensifica em anos de ocorrência da La Niña, empurrando ainda mais a água quente em direção da Austrália,  permitindo que ocorra  mais Ressurgência na costa oeste Sul americana, ou seja, permitindo que ocorra um acúmulo maior de água fria junto a costa oeste da América do Sul.

E é justamente esse acúmulo anormal de água fria sobre o oceano Pacífico que nós iremos chamar de La Niña.

E embora a La Niña também não possua uma periodicidade previsível, ocorrendo em um intervalo que varia entre dois a setes anos, ela costuma ocorrer próximo do meio do ano, gerando consequências irregulares, mas que na maioria das vezes são opostas ao do El Niño, 

Tanto o El Niño quanto a La Niña ocorrem devido a  alterações na intensidade  dos ventos Alísios, no caso do El Niño por conta do enfraquecimento dos  ventos, enquanto a La Niña surge em decorrência do fortalecimento deles.

Mas por que os ventos Alísios sofrem essas oscilações?

As origens dessas oscilações ainda são bastante controversas no meio científico, e por esse motivo nós ficaremos ao menos por enquanto, sem uma resposta conclusiva para essa questão.

 

Referências: Lucci, Elian Alabi; Branco, Anselmo Lazaro; Mendonça, Cláudio. Geografia Geral e do Brasil Ensino Médio: 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Tamdjian, James Onning.Geografia Geral e do Brasil:estudos para compreensão do espaço: ensino médio / volume único James & Mendes – São Paulo : FTD,2005.