Globalização e os fluxos materiais e imateriais
Globalização e os fluxos materiais e imateriais
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O conceito de globalização é apresentado de diferentes maneiras conforme os mais diversos autores em Geografia, Ciências Sociais, Economia, Filosofia e História.
Mas em uma tentativa de síntese, é possível afirmar que a Globalização é um processo responsável pelo aumento das interações entre os países.
E essas interações apenas estão ocorrendo graças a possibilidade de conexão entre as mais diversas partes do planeta.
E é claro, que nada disso seria possível, sem que ocorresse um avanço tecnológico, principalmente nos meios de comunicação e transporte.
Mas conhecer o conceito de globalização não é suficiente para compreendê-la.
É importante que o seu processo seja estudado como um todo, desde a sua origem , até os dias atuais.
E a primeira coisa a ser feita ao estudar a globalização, é evitar encará-la como um acontecimento, mas como um processo, que segundo muitos autores, teria se iniciado com as grandes navegações dos países europeus entre os séculos XV e XVI.
É difícil falarmos sobre um mundo globalizado antes do século XV, uma vez que nem todas as partes se conheciam, a América e a Oceania por exemplo apenas foram descobertas pelos europeus durante esse período.
Dessa forma, é importante que se tenha em mente que foi a partir dos séculos XV e XVI que o mundo começou a ficar interligado, e que já havia comunicação, comércio e mistura de culturas entre as mais diversas partes do globo.
Mas ao longo do tempo, conforme foi ocorrendo o avanço tecnológico nos meios de comunicação e transporte essa interação entre as partes foi aumentando.
Tanto, que foi devido a esse avanço tecnológico que nós passamos a ter a sensação que o mundo acabou diminuindo, por conta da rapidez que conseguimos percorrer longas distâncias em pouco tempo, ou pela facilidade como nos comunicamos com pessoas que estão do outro lado do mundo.
Um exemplo clássico que pode ser utilizado para ilustrar a minha fala, é a figura criada pelo geógrafo David Harvey.
Reparem que entre os meios de transportes terrestres e marítimos disponíveis entre os anos de 1500 e 1840 mostrados na figura superior.
As carruagens e barcos a vela atingiam uma velocidade média de apenas 16 Km/h.
No entanto na última figura debaixo é possível notar que a partir de 1960 já existiam alguns jatos de passageiros que alcançavam a incrível velocidade de 1100 km/h
Fazendo aumentar a sensação que o mundo havia encolhido e que tudo acabou ficando ainda mais próximo.
Tanto que nos dias de hoje, é comum encontrarmos nos livros de geografia, o termo “aldeia global” para se referir ao mundo atual.
O termo “aldeia” faz referência a algo pequeno, onde todas as coisas estão próximas umas das outras, o que nos remete à ideia que essa integração mundial tornou o planeta metaforicamente menor.
Para termos uma real noção do avanço que ocorreu nos meios de transportes do século XV para os dias atuais, basta compararmos os 44 dias que Pedro Alvares Cabral demorou para percorrer de Portugal ao Brasil em 1500, sendo que hoje um trajeto semelhante ao percorrido por ele, pode ser feito em apenas 8 horas de avião.
E todo esse avanço tecnológico que ocorreu ao longo dos anos apenas foi possível, graças as três Revoluções Industriais.
Veja os exemplos abaixo:
Na 1ª Revolução Industrial nós podemos citar a invenção da máquina a vapor muito utilizada nos barcos e locomotivas da época.
Já na 2ª Revolução Industrial o destaque pode ser voltado para o uso do petróleo como fonte de energia, e para a invenção dos automóveis e aviões.
- Sem contar o grande avanço nos meios de comunicação com a invenção do (telegrafo, telefone, televisão e cinema).
- Mas de todas as revoluções industriais, a que pode ser considerada responsável por esse atual e intenso estágio de globalização que nós estamos inseridos, é a 3ª Revolução Industrial, que ainda está em andamento, e também é chamada de Revolução Técnico-Científica-Informacional.
Pois foi dentro dela que se intensificaram os avanços técnicos no contexto dos sistemas de informação, com destaque para a difusão dos aparelhos eletrônicos e da internet, além de uma maior evolução nos meios de transportes.
Portanto, a título de síntese, podemos considerar que, se a globalização iniciou-se há cerca de cinco séculos, ou seja por volta dos séculos XV e XVI, ela consolidou-se de forma mais elaborada e desenvolvida ao longo dos últimos 50 anos, principalmente após o fim da Guerra Fria.
Um outro fator do final do século XX que também contribuiu para impulsionar e consolidar esse processo de interação global, foi a doutrina neoliberal, que defende a mínima intervenção do Estado na economia, ou seja, os governos devem interferir cada vez menos nas questões econômicas de seus países, permitindo que elas sejam reguladas pela lei da oferta e procura, atendendo assim, aos interesses das grandes empresas.
Uma das características marcantes da globalização é o fato de ela manifestar-se nos mais diversos campos que sustentam e compõem a sociedade mundial.
Nos dias atuais nós podemos falar em uma cultura globalizada, em uma política e direitos humanos globalizados, e principalmente em uma economia e hábitos de consumo globalizados.
Até mesmo as questões relacionadas a saúde fazem parte da pauta do mundo globalizado e, a Covid-19 é um dos maiores exemplos disso, por ser uma doença que se originou na China, e rapidamente se espalhou por todas as partes do planeta transformando-se em uma preocupação global. Tudo isso consequência dessa forte globalização.
Já no campo cultural, um exemplo de evidência de como as sociedades integram suas culturas, influenciando-se mutuamente, pode ser vista , quando uma prática cultural japonesa é vivenciada nos Estados Unidos ou quando uma manifestação tradicional africana é revivida no Brasil.
Em virtude dessa ampliação da integração entre os países, foram criadas algumas organizações internacionais. Como a ONU, a OMC, o FMI o Banco Mundial entre outras.
Através dessas organizações tornou-se possível promover a discussão de temas que envolvem o mundo todo. Como problemas ambientais, direitos humanos e até mesmo regras comerciais.
Mas falar de globalização sem citar a atuação das empresas transnacionais seria o mesmo que tentar contar a história de um filme excluindo as participações do ator principal.
O termo transnacional substitui o termo multinacional, pois a palavra multinacional pode ser interpretada como se a empresa pertencesse a várias nações.
Já o termo transnacional relaciona-se ao fato de a empresa ultrapassar os limites territoriais de sua nação para atuar no mercado exterior.
As empresas transnacionais conseguiram aproveitar muito bem os avanços tecnológicos ocorridos com a terceira Revolução Industrial para fazer da maior parte do mundo o seu mercado consumidor.
As transnacionais costumam possuir a matriz em seu país de origem e atuam em outros países através da instalação de filiais.
Porém, uma transnacional não chega a um país por acaso. Para que isso ocorra, ela recebe incentivos fiscais dos governos, como isenção de impostos, e doação de terrenos.
Na maioria das vezes essas filiais são instaladas em países subdesenvolvidos e/ou emergentes, onde as leis ambientais são brandas ou inexistentes, e os sindicatos e as leis trabalhistas frouxos, ao ponto de permitirem que a mão de obra barata do local, possa ser explorada com salários baixos, poucos direitos e benefícios, e exaustivas jornadas de trabalho, fazendo com que seus lucros aumentem de forma considerável.
.Além disso, essas empresas, na sua maioria, não investem seus lucros nos países em que possuem filiais, mas no país onde se encontra a matriz, é ali que são mantidos os centros de pesquisas para desenvolvimento tecnológico, e também onde são tomadas as grandes decisões sobre marketing, investimentos, e corte de custos.
Nova Divisão Internacional do Trabalho
Ao analisarmos a atuação das transnacionais, é possível notar a criação de uma nova divisão internacional do trabalho.
Onde os países centrais (desenvolvidos), são responsáveis pela criação e comercialização de tecnologias avançadas, enquanto os países emergentes e subdesenvolvidos produzem gêneros agrícolas, produtos industrializados com pouca tecnologia, além de serem utilizados como mercado consumidor e fornecedores de mão de obra barata e matérias primas.
A flexibilidade das empresas transnacionais e as redes geográficas
Toda essa flexibilidade do setor produtivo das empresas transnacionais, apenas é possível por conta do avanço tecnológico ocorrido com a Revolução técnico-científico informacional, que permitiu que o espaço geográfico mundial, passasse a construir-se e articular-se a partir das redes geográficas.
E o que seriam essas redes geográficas?
De forma bem abrangente, as redes geográficas podem ser definidas como um conjunto de locais conectados ou interligados entre si, como os portos e suas hidrovias, aeroportos e suas aerovias, ou até mesmo rodovias, ferrovias, dutos viários, que facilitam os fluxos materiais, que são os meios de transportes e mercadorias que possuem materialidade e volume, mas também existem as redes de telefonia, TV e de internet, que possibilitam a circulação dos fluxos imateriais, que são os fluxos não palpáveis.
É o caso das transferências bancárias, compras e aulas online, das trocas de mensagens, fotos, arquivos pela internet, entre outras atividades.
As redes geográficas, possibilitam por exemplo que seja comprado uma bola de futebol com a marca de uma empresa alemã, que foi produzida numa fábrica no Paquistão (Onde a mão-de-obra é muito barata) e importada para o Brasil por uma empresa norte-americana. Mas vale lembrar ,se o custo da mão-de-obra no Paquistão aumentar, a empresa irá procurar outro lugar para se instalar, onde a mão de obra seja ainda mais barata.
Portanto as redes geográficas e seus fluxos materiais e imateriais são responsáveis por estruturar a globalização ao ponto de permitirem a flexibilização dessas empresas transnacionais.
Através das redes geográficas, tem sido possível uma maior difusão do conhecimento, e possibilitado um crescimento extraordinário no fluxo de mercadorias e capitais.
Mas não pensem que a globalização atinge a todos na mesma proporção.
Os fluxos comerciais costumam ser mais intensos entre as regiões desenvolvidas do planeta.
A infraestrutura técnica como satélites artificiais, linhas telefônicas, cabos de fibra óptica, antenas, portos, aeroportos, rodovias e ferroviais estão distribuídas de forma desigual pelo espaço geográfico mundial.
Os países desenvolvidos como EUA, Japão e a maioria dos países europeus, possuem uma infraestrutura técnica bem desenvolvida e uma grande quantidade de equipamentos suficientes para mantê-los atuantes no mundo globalizado.
Já nos países subdesenvolvidos, os equipamentos apenas podem ser encontrados em alguns pontos estratégicos.
Portanto, se a presença cada vez maior das tecnologias tem sido responsável por acentuar a globalização de alguns lugares, a ausência delas pode gerar a chamada exclusão digital.
Além disso não podemos esquecer que as tecnologias beneficiam qualquer um, inclusive as redes ilegais, permitindo um fortalecimento do crime organizado, afinal de contas o tráfico também utiliza drones e tem acesso ao google.
As próprias empresas transnacionais também fazem o uso perverso dos meios de comunicação, aproveitando-se de séries, filmes e comerciais para difundir uma cultura de massa , procurando padronizar os hábitos de consumo da população mundial.
Tanto que hoje é possível vermos pessoas pelo mundo todo vestindo-se de forma semelhante, assistindo os mesmos tipos de séries e filmes, e até mesmo consumindo os mesmos produtos alimentícios. Exemplo Mac Donalds.Netflix, Coca Cola, etc...
A globalização também tem acelerado o índice de desemprego em todo o mundo, resultado dos avanços tecnológicos que atendem ao principal objetivo capitalista, o de favorecer o acúmulo de riqueza das transnacionais, ao fazer desaparecer inúmeros postos de trabalho, é o famoso desemprego estrutural.
E o hibridismo cultural gerado pela facilidade de migração por conta do barateamento dos meios de transportes, que vem permitindo uma maior diversidade de culturas, também possui o seu lado negativo, ao aumentar a xenofobia em todas as partes do globo, mas principalmente nos países desenvolvidos.
Dessa forma, ao mesmo tempo que a globalização aproxima, ela afasta.
No que se refere a economia as grandes empresas ampliaram seus lucros, mas a grande parcela de trabalhadores pelo mundo a fora, viram seus salários serem reduzidos e muitos dos seus direitos e postos de trabalho serem excluídos; criando um abismo ainda maior entre a população mais rica do planeta e a população mais pobre.
Já no que se refere a democracia de acesso, o muro de Berlim caiu, mas subiram os muros da exclusão digital, pois quem não possui acesso as tecnologias, acabam ficando excluídos, e a população mais vulnerável socioeconomicamente é a principal parcela dos indivíduos off-line.
Além disso, toda a evolução tecnológica permitiu que os desejos ficassem padronizados, mas o poder de aquisição não.
Vídeo aula: www.youtube.com/watch?v=JVbKnWz8IdA&t=223s
Referências:
Lucci, Elian Alabi; Branco, Anselmo Lazaro; Mendonça, Cláudio. Geografia Geral e do Brasil Ensino Médio: 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
Milton Santos, Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico –científico informacional. São Paulo, Edusp, 2005.
Globalização. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/globalizacao.htm . Acesso em 14/10/2020.
Adaptação: Hélio da Silva Junior – Especialista em Metodologia de Ensino em Geografia e História.