Reforma Religiosa
Reforma Religiosa
Link da vídeo aula >>> www.youtube.com/watch?v=mKZ4M97EEBY&t=106s
Igreja na Idade Média
Com a queda do Império Romano do Ocidente no ano 476, a Igreja Católica, sob a liderança do papa , tornou-se a instituição mais poderosa da Idade Média.
E dentro desse período, além de possuir terras em toda a Europa, a Igreja se impunha de forma absoluta sobre a população dessa região.
Afastamento da Igreja
No entanto, com o passar do tempo a igreja foi se afastando cada vez mais do povo.
Esse afastamento da igreja, unido ao seu excesso de poder e de algumas regras que não eram muito bem aceitas por parte da sociedade, acabaram gerando descontentamento em todas as classes sociais do final da Idade Média e Início da Idade Moderna.
Na condição de senhora de muitos feudos, a Igreja explorava a população mais pobre formada majoritariamente por servos, que eram obrigados a pagar inúmeros impostos , e além disso, a Igreja também procurava aumentar suas riquezas através da venda de indulgências aos fiéis.
A venda de indulgências, era a absolvição dos pecados mediante um pagamento.
Simonia e a crise moral
A Simonia também favorecia o aumento das riquezas da Igreja. Um dos exemplos de Simonia era a venda de cargos eclesiásticos. Em outras palavras os cargos mais importantes da igreja muitas vezes eram vendidos para pessoas totalmente despreparadas que só almejavam o cargo para aumentarem a sua influência sobre a população, e posteriormente poderem explora-las para se enriquecerem ainda mais.
Uma outra prática de Simonia e talvez a mais abusiva de todas, está relacionada a negociação de relíquias que eram falsamente consideradas sagradas.
A igreja alegava ter em mãos, leite de Maria, lágrimas de Maria, suor de Jesus, espinhos da coroa de Jesus, pedaços da cruz onde Cristo foi crucificado.
E vendia tudo isso aos fiéis, fazendo-os acreditar que eles realmente estavam comprando relíquias sagradas.
Dessa forma, havia um abismo entre aquilo que era ensinado pela Igreja e aquilo que era praticado por ela. O que acabou gerando uma enorme crise moral e abrindo margem para que muitas manifestações começassem a ocorrer.
Além disso, os interesses pessoais de cada uma das classes sociais, também acabaram contribuindo para que a Igreja começasse a ser questionada.
Motivações das classes sociais
Já no final da Idade Média, enquanto o poder da nobreza feudal diminuía nas áreas rurais, nos burgos acontecia o contrário com a burguesia.
No entanto, os burgueses possuíam uma série de obstáculos para ampliar os seus negócios. Pois o clero condenava o lucro excessivo e o empréstimo de dinheiro a juros, conhecido como Usura, mas boa parte dos burgueses tinham nesta prática uma ferramenta de enriquecimento.
Para tentar superar esses e outros entraves, em muitos lugares a burguesia se aliou a um rei, dando-lhe poder para que os seus interesses pudessem ser atendidos.
No entanto, a influência do papa sobre as populações dos reinos era enorme, e os reis, interessados nas riquezas da Igreja e em se fortalecer, sentiam a necessidade de combate-la.
Dessa forma, influenciado pelas ideias renascentistas, o homem da Idade Moderna, inicia uma série de questionamentos em relação ao mundo a sua volta, e mergulhada numa crise moral, a Igreja acabou dando motivos de sobra para tornar-se o centro desses questionamentos. (Inclusive eu estou deixando um link no card logo acima referente a uma aula que aborda de forma detalhada esse movimento intelectual que ocorreu na Idade Moderna e que ficou conhecido como Renascimento).
Martinho Lutero
E foi dentro deste contexto que surgiu a figura de Martinho Lutero, um monge agostiniano e professor da universidade de teologia de Wittenberg, cidade do Sacro Império Romano Germânico. (Onde hoje está a Alemanha)
Lutero mesmo sendo uma pessoa muito devota, não concordava com muitas práticas da Igreja.
E o ápice da sua insatisfação ocorreu quando o frade dominicano Johann Tetzel foi enviado para a cidade de Wittenberg para vender indulgências. Alegando que o dinheiro arrecadado, seria utilizado para a construção da Basílica de São Pedro.
Inconformado com isso, Martinho Lutero criou 95 teses, criticando alguns pontos que ele considerava necessário serem reformados pela Igreja Católica, sendo a venda de indulgências, o principal deles.
Há quem afirme que Martinho Lutero pregou essas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg no dia 31 de outubro de 1517, no entanto, nos dias atuais a ideia mais aceita por alguns historiadores contemporâneos, é que este fato não passa de uma lenda.
E por outro lado, mesmo se isso tivesse ocorrido, esse gesto não poderia ser considerado revolucionário, pois a prática de se pregar manifestos nas portas das igrejas, referentes a assuntos que deveriam entrar em debate, era algo comum para aquela época.
Pré reformadores
No entanto Martinho Lutero não foi o primeiro a manifestar-se contra a Igreja, antes dele tiveram outros nomes de muita expressão, e que fizeram críticas muito semelhantes a de Lutero, entre esses nomes estavam a do inglês John Wycliffe , que além de teólogo era professor da Universidade de Oxford, assim como o do teólogo Boêmio Jan Hus
Eles não aceitavam que as missas assim como a bíblia fossem feitas e traduzidas apenas para o Latim, e afirmavam que a Igreja estava se distanciando do evangelho pregado por Jesus e seus apóstolos.
Além disso, eles também faziam fortes críticas a corrupção, ao celibato, a crença no purgatório, em relíquias e peregrinações.
Vantagens de Lutero
Mas ao contrário desses pré reformadores, Martinho Lutero teve dois fatores determinantes que contribuíram para o sucesso de suas ideias e para que elas fossem propagadas ao ponto de alcançarem um número maior de simpatizantes por vários cantos da Europa.
O primeiro deles foi o período em que Lutero viveu, onde o descontentamento com a Igreja era comum em todas as classes sociais da época, principalmente entre alguns nobres e a burguesia.
O segundo deles está relacionado a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg.
No início do século XVI, os efeitos provocados pela imprensa criada por Gutenberg já eram perceptíveis nos principados alemães, sobretudo quando, por meio dela, houve a popularização dos panfletos críticos do reformista Martinho Lutero. As ideias de Lutero apresentadas em 1517 passaram a ter uma grande recepção entre a população letrada da Alemanha, graças a circulação das teses e dos panfletos impressos.
Advertências a Lutero
Por conta de suas 95 teses, Martinho Lutero foi acusado pelo Papa de heresia e chamado para ir a Roma para dar esclarecimentos em 1518, mas recusou-se a ir e manteve suas posições.
Em 1520,ele recebeu uma “Bula papal” para retratar-se ou seria excomungado. Como resposta a esse documento, Lutero queimou a Bula papal em praça pública.
Por conta de suas atitudes, em 1521 o Imperador Católico do Sacro Império, Carlos V, convocou então todos os nobres governantes para julgar Lutero, em uma espécie de Assembleia que ficou conhecida como Dieta de Worms. Nela esperava-se que Martinho Lutero negasse tudo o que ele havia dito. Mas isso não aconteceu.
Diante da postura de Martinho Lutero em não voltar atrás em suas afirmações, foi outorgado pelo Imperador Carlos V o Edito de Worms, um documento que o considerava herege, e além disso declarava criminosos todos os que "seja por atos ou palavras, defendessem, sustentassem ou favorecessem o que foi dito por Martinho Lutero". O édito de Worm determinou ainda que Lutero fosse preso e levado até o imperador para ser punido.
Mas Martinho Lutero conseguiu escapar de suas punições, por contar com o apoio de vários nobres que tinham interesse em ampliar seus domínios tomando as terras da igreja.
Dessa forma, Lutero escapou à prisão e permaneceu em isolamento no castelo de Wartburg pertencente a Frederico III , onde continuou a escrever e traduzir a Bíblia para o alemão.
Ideias de Lutero
Para Lutero, o homem se salvaria do inferno pela fé em Deus, e não por obras de caridade ou pela compra de indulgências; os ensinamentos da Bíblia deveriam ser seguidos, mas poderiam ser interpretados por qualquer cristão, e não apenas pelos clérigos; as imagens de santos e as relíquias deveriam ser eliminadas; os cultos religiosos deveriam ser realizados na língua nacional, e não mais em latim; os bens da igreja deveriam ser transferidos aos nobres governantes; o celibato e a vida monástica deveriam ser extintos. Tanto que o próprio Martinho Lutero acabou se casando.
Dos sete sacramentos da Igreja Católica, Martinho Lutero defendia apenas a permanência do Batismo e da eucaristia, por possuírem referências bíblicas que as justificassem.
Anabatistas
Alguns poucos seguidores de Lutero que possuíam uma visão mais radical de suas ideias reformistas começaram nessa época uma série de revoltas contra a Igreja, aos nobres e contra o próprio Estado, esse movimento era composto por um grupo de pessoas conhecidas como anabatistas, no entanto, Lutero não era a favor dessas rebeliões. Pois defende-las, seria o mesmo que ir contra aos nobres que impediram que ele fosse punido.
Dieta de Speyer 1526 e a de 1529
Para tentar acalmar o ânimo de toda essa galera, em 1526 ocorreu a Dieta de Speyer,, nessa assembleia foi concedida no Sacro Império Romano Germânico uma certa liberdade religiosa aos seguidores de Lutero.
Tanto que durante esse período alguns príncipes chegaram a incentivar o protestantismo em seus territórios.
Mas esse período de liberdade religiosa não durou muito, e em 1529 em uma outra Dieta, todas as permissões concedidas aos luteranos foram suspendidas.
E foi a partir disso que alguns príncipes e representantes de algumas cidades do império Germânico resolveram apresentar ao imperador um documento para protestar contra as decisões tomada por ele.
Essas pessoas ficaram conhecidas como Protestantes. É por esse motivo que até os dias de hoje, os seguidores de algumas religiões cristãs são conhecidos por este nome.
Dieta de Augsburg
Por conta de toda essa confusão, a Igreja Católica resolveu fazer a Dieta de
Augsburg .
Nela foi apresentada pelos Luteranos um documento conhecido como confissão de Augsburg, que era uma confissão de fé.
A Igreja respondeu com um documento rejeitando essa Confissão.
Os luteranos não se renderam e apresentaram como tréplica um outro documento conhecido como Apologia da Confissão de Augsburg, mas ele também foi rejeitado pelo imperador.
Com a Igreja recusando todos os documentos e ideias reformistas, inclusive condenando quem as seguisse, a confissão de Augsburg foi oficializada pelos luteranos, e vários nobres se converteram ao luteranismo.
E assim nasceu a Igreja Luterana. Lembrando que Martinho Lutero não pretendia dividir a Igreja Católica, mas fazer com que suas práticas se aproximassem mais do evangelho de Cristo e seus seguidores.
A divisão ocorrida entre a cristandade foi uma consequência das próprias decisões tomadas pela Igreja Católica.
João Calvino
Mas a Reforma religiosa não parou na Alemanha com Martinho Lutero.
Influenciado pelas ideias de Lutero, um teólogo Francês, João Calvino, fugindo a perseguições no seu país, instalou-se em 1536 em Genebra, na Suíça.
Suas ideias foram expostas no livro As instituições da religião cristã.
As teses calvinistas defendiam a simplificação total do ritual religioso, resumindo-o a apenas aos cânticos e às leituras da Bíblia feitas por um sacerdote, que não usaria qualquer vestimenta especial.
Além disso, defendiam a ideia da predestinação, afirmando que a salvação da alma dependia da vontade de Deus e que os homens tinham seu destino traçado desde o nascimento.
Afirmavam ainda que a riqueza acumulada através do trabalho era sinal de salvação futura da alma.
Apoiado pela burguesia, que achou tais ideias coerentes com sua forma de viver, o calvinismo teve uma rápida expansão pela Europa, que se encontrava em plena Revolução Comercial.
Na França, seus seguidores ficaram conhecidos como huguenotes, na Inglaterra como puritanos, e na Escócia como presbiterianos.
Tópico Reforma Anglicana
A Inglaterra também não escapou da Reforma Religiosa, mas lá ela se diferenciou das outras reformas devido ao seu caráter político e não religioso.
O rei inglês Henrique VIII, tinha interesse nas terras e bens da Igreja.
Além disso, Henrique VIII queria anular seu casamento com Catarina de Aragão e casar-se com Ana Bolena, alegando precisar de um filho homem que viesse a sucedê-lo.
Como o papa não quis anular seu casamento, Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica, criando a Igreja Anglicana.
Tornando-se supremo chefe religioso, o rei inglês anulou seu casamento, casou-se novamente, confiscou as terras da Igreja Católica e extinguiu os mosteiros.
Entretanto ele não fez nenhuma alteração na doutrina em vigor.
Formada por uma mistura de rituais católicos e calvinistas, foi durante o reinado de sua filha, Elisabete I, que se deu forma à religião anglicana, religião oficial da Inglaterra até os dias de hoje.
A Contrarreforma
Mas não pensem que a Igreja Católica não tomou providências em relação a essas transformações.
Diante dos movimentos protestantes da Europa, a Igreja Católica reagiu com a Contrarreforma.
Seus principais objetivos eram evitar a difusão das ideias reformistas, conquistar novos adeptos e recuperar sua influência no mundo. Os princípios da Contrarreforma foram estabelecidos entre 1545 e 1563 no Concílio de Trento, na Itália.
As principais medidas tomadas foram:
- Manutenção dos dogmas do catolicismo e condenação das reformas protestantes;
- Confirmação do culto aos santos, às imagens e às relíquias sagradas;
- Confirmação do celibato clerical e da vida monástica;
- Criação do Index, relação de livros proibidos aos fiéis por serem considerados contrários à doutrina católica;
- Fortalecimento da Inquisição para julgar os acusados de heresia.
E para fortalecer a Igreja Católica e moralizar suas práticas, foram criadas algumas ordens religiosas, dentre as quais destacou-se a Companhia de Jesus.
Fundada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola, essa ordem era famosa por sua rigidez quase militar. Os jesuítas eram enviados pelo mundo para difundir o catolicismo entre protestantes e os pagãos.
A atuação dos jesuítas evidenciou-se principalmente no trabalho de catequização dos índios americanos. Os Jesuítas distinguiram-se também pela fundação de colégios na América, como por exemplo o que deu origem à cidade de São Paulo no Brasil.
Embora a Igreja Católica tenha perdido muitos adeptos que contestaram e rejeitaram seus dogmas, mesmo assim ela demonstrou no Concílio de Trento que ainda era muito poderosa e que possuía capacidade de reação. Tanto que ela está aí até os dias atuais.
Referência: História da Idade Moderna, de Paulo Miceli: https://bit.ly/2z3GOvl